domingo, 24 de outubro de 2010

O que lembrar? O que esquecer?

Sempre tive uma pirraça com esse negocio de ditos populares. Tá que a cultura é algo que gosto, respeito e admiro, mas daí acreditar que aquelas frases tão simplórias, que transmitem um conhecimento não se sabe de quem, nem de quando, devem e podem guiar sua vida, ah.. aí, já é pedir muito!
Um dos que mais tem me assombrado recentemente é aquele tal do "recordar é viver". Ôh coisinha pra ecoar.. e de tanto ficar ecoando, acabei discordando!
Como assim recordar é viver? Claro que tenho lembranças, não pretendo esquecer as coisas que vi, vivi, ouvi e senti porque estão no passado. Mas passar todos os meus dias do presente querendo rever, reviver e relembrar palavras, cheiros e gostos, não dá. Não dá, porque não é justo com o passado que "passou não voltará" e, principalmente, não é justo com o presente. Afinal, se parar a vida pra ficar lá, vivendo do recordar como pode ser possível depois ter novas coisas para recordar?!
Não, não quero, nem posso acreditar que devo mesmo reviver assim, tão intensa e incessantemente, o passado. 
Sabe, as pessoas tem que entender que o que se viveu não tem que durar pra sempre pra ser de verdade. Nem que o só pode ter sido bom caso se repita, caso se diga e repita que foi infinitas vezes. É preciso, a meu ver, aprender a viver com o que se teve, e foi bom, do jeito que foi, sem querer retocar, consertar ou completar. Porque nem sempre a versão acaba é a que se gosta mais, às vezes, bom mesmo é o croqui - com todas as linhas de construção ali, aparentes, revelando o tremor, a incerteza quanto a forma e a vontade explícita de se conhecer o objeto.
O que vai ficar e o que não, do que se lembrar e do que se esquecer, essas são perguntas que não pretendo responder. Só sei que respeitar sentimentos e escolhas do passado serve pra fortalecer quem se é e quer ser.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Mais uma vel(h)inha

Talvez seja a ausência de rugas que me permita pensar assim, mas envelhecer é um máximo!
Aí, essas pessoas do mundo que ficam aí se esticando não sabem mesmo observar o que o tempo é capaz de proporcionar. Já faz algum tempo que censuro essa postura, à lá Peter Pan, de querer incessantemente a juventude - possivelmente por ver, pessoalmente, o estrago que isso causa - mas o fato é que querem. O medo moderno é o medo da velhice, e aí as pessoas passam a vida na academia, deixam de comer coisas inacreditavelmente deliciosas e gordas, combatem tudo o que é natural e se adquire com o tempo - de cabelos brancos a pneusinhos - em nome da tão falada juventude.
Se for pra ter a juventude das capas de revista, eu não quero. Não mesmo que a felicidade pode estar restrita a isso. Pílulas da juventude, peelings, máscaras, tratamentos, roupas jovens, músicas jovens, o carro dos jovens, a vida dos jovens. Não, a vida dos jovens deve me bastar enquanto eu for jovem e na medida em que eu for capaz de ser jovem.
O mais engraçado é que ter me descoberto, recentemente, uma jovem não me fez temer a velhice.
Não sei se vou cultivar uma cabeça branca, mas cada dia mais tenho sede de viver o dia que vou poder olhar e ver tudo como parte de mim, e que as crises são reduzidas a um simples pranto, lamento, ou nem serão lembrados O dia que algumas rugas e a pele flácida nada serão, pouco efeito terão, diante de tudo que sou, vivi e construí. Quero o dia que o sol, quero andar sob o sol.

Só não quero nunca me perguntar "onde estão os dias de felicidade?" e constatar, ou dizer: "antes desses".

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

So I cry, and I pray, and I beg

Não, a música não vai continuar, quero só essa frase mesmo.
Gente do céu, quantos giros a vida dá?! [pensei em usar "voltas" mas aí lembrei da música tema da Jade.. desisti] Quando finalmente se espera um momento de quietude e paz, aquele de respirar fundo e sentir o vento, eis que surge um tornado gira tudo muito, mas muito mesmo, funciona quase como um liquidificador sem tampa: gira tudo, tritura, joga pro alto e de repente tudo voa pelo teto e cai no chão estatelado.
Confusa essa construção? Pode até ser, mas é algo bem próximo disso que se sente.

Como assim as pessoas tentam resumir a vida ao que é palpável? Elas deviam ver mais as cores, sentir os aromas, o vento, ou fechar os olhos e tentar ficar o máximo de tempo sem dormir mas de olhos fechados, só sentindo. Perceber o mundo que rodeia a ela mesma, o mundo que ela habita, o espaço que ocupa.. Isso é se conhecer, é ser.
Como pretende alguém viver sem esse momento de paz para perceber as coisas? Eu, particularmente, aprecio bastante esses momentos, mas ele deve existir no pós-liquidificador. Tá, na verdade o pós-liquidificador costuma ser a hora que se utiliza a tríade do título. Chorar de desespero, rezar e implorar por mudanças. Parece triste, mas nem é. De que adianta ir vivendo no automático, sem observar nada do que passa? Definitivamente não desejo isso a ninguém. Só que ao mesmo tempo, pelas pessoas que já vi, vivi, e conheci, sei que grande parte não sabe fazer isso. Simplesmente passa na vida, achando que vive horrores, mas se você pergunta: "lembra o gosto?", "lembra o perfume?", "lembra?" a resposta é "não, não e não". Isso quando elas não são do tipo que para tudo da vida a todo momento pra racionaliza e classificar.  Tenho por essas pessoas tanto dó quanto posso sentir. Espero e desejo a vida com tudo o que ela puder ter e proporcionar: palpáveis ou não.
Esse trio aí não é um gabarito universal para a resolução dos problemas, funciona melhor que muita coisa. 

ps: o palpável tem muita graça, é verdade, mas todo o resto imaterial, ao ser relembrado, traz uma sensação muito melhor.

sábado, 9 de outubro de 2010

E viva o 9 de copas!

Está ocorrendo um revezamento quanto ao tipo de mídia, mas a mensagem continua a mesma: CURTA A VIDA! Bom, menos mal, assim não fica parecendo uma fixação, ou coisa do tipo. Devia mesmo ser uma pessoa bem chatinha e bitolada, pela frequência que nos últimos meses essa mensagem tem sido repetida... melhor acreditar!
Mas assim: não é só pra mim, a dica fica pra todos que -como eu- tentam racionalizar todas as coisas e criar elos de causa e efeito com os acontecimentos da vida. É difícil desligar disso, confesso, mas é melhor tentar.

"GOZE A VIDA!
O 9 de Copas emerge como arcano de conselho neste momento de sua vida. Trata-se de um aviso para que você possa gozar melhor os prazeres da vida, permitindo-se situações e encontros que lhe proporcionem felicidade. Você merece, após tantas coisas, passar por uma fase de satisfação do ego. Divirta-se! Procure, neste momento, afastar-se voluntariamente das coisas e pessoas que lhe causam desprazer. Estimule tudo o que lhe parecer satisfatório, principalmente no que diz respeito à satisfação dos sentidos: as coisas belas, gostosas, estimulantes. Observe também que, quando nos colocamos na direção da felicidade, muitas pessoas tentam nos dar opiniões insolicitadas, nem sempre com más intenções, que – se ouvidas – nos afastam dos nossos verdadeiros objetivos. Confiança, portanto, em sua própria intuição!

Conselho: Procure se dar prazer sem culpa. Curta a vida!"

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Quando será o Natal?

Le petit Nicolas foi um excelente filme [os franceses sabem como fazê-los], e das várias coisas ótimas que o Nicolas disse durante o filme vou usar uma para estruturar minha argumentação. Em determinado momento, ele diz que algo que quer muito "demora mais que esperar o Natal". Grande verdade, o que mais desejamos simplesmente parece que nunca vai chegar e acontecer! E o pior, ou melhor, passa tão rápido. De repente o sol já desponta, o tempo acaba e você ainda não viveu metade do que esperava tem que se contentar que acabou.
Mas o que define quando é o Natal? Não o cristão, mas o individual, o seu, o meu, o do outro.
Certamente não segue o calendário cristão, talvez o astrológico.. mas se ater a uma só variável.. duvido que seja assim e, se for pra depender de uma só, que seja da autodeterminação. É que basta você olhar para o que quer, para o que elegeu que deve ser seu, para que depois de um trabalho nesse sentido consiga de fato.

E se quiser mais de um Natal por ano, por que não? Se existe o carnaval fora de época, qual o problema de um 'natal' fora de época? Ahhhh, queira sim! Entretanto, não queira só pelo presente, pelo embrulho, eles são lindos e ótimos, mas queira pela expectativa, pela incerteza e pela surpresa que virá. Da mesma forma que existem anos em que o 25/12 é super, também existem os que são mixos e mesmo assim esperamos o próximo. Várias foram as vezes que Nicolas perguntou se seria hoje ou amanhã em vão, mas no dia que era não teve duvida: correu feliz na direção do que queria, sem duvidar.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Quem te viu, quem te vê (!)

Vivendo aí, até! Tão e tanto quanto posso.
Mas sempre tive a sensação de ser velha, gostos que não coincidem com a faixa etária: música, lugares, cores e sabores. Entretanto, não considerei [ou considero] um problema. Até gosto, faz parte da minha construção de identidade, e como aprecio o que é diferente, reluto em ser semelhante aos outros [quero ignorar minha mortalidade e insignificância no meio de todos], quero o inesperado, o inusitado, o imperfeito. E espero o trio IN sem desespero, com uma calma que, imagino, só os mais velhos podem ter.
Só que foi bem divertido hoje me deparar com três pequenas linhas, que me fizeram rejuvenescer não sei quantas décadas:
"não tenho mais idade
pra brincar de esconde-esconde
vem me pegar"
Gente, como de repente pude me descobri uma jovem, quase criança, correndo aí pela vida! 
E essa ai, da coluna à direita, sou eu, recém descoberta jovem. Louca pra correr!Esbanjando juventude.

Pra terminar:
"Pensar é estar doente dos olhos." Alberto Caeiro. 
E se é assim, acabo de positivar o que já vinha fazendo e, sem saber da frase, escolhido acreditar. Nada de pensar, racionalizar, colocar em planilhas e gráficos comparativos. Nada de organogramas, fluxogramas e afinas. Agora só vivo o que eu puder ver, e sem me cegar com pensamentos. Eles ficam pra depois. Foi assim que aprendi em algumas aulas na FDUFMG, a realidade fática é diferente da norma. Digamos que no momento, quero me preocupar apenas a realidade fática, deixo a norma pra depois.