Sempre tive uma pirraça com esse negocio de ditos populares. Tá que a cultura é algo que gosto, respeito e admiro, mas daí acreditar que aquelas frases tão simplórias, que transmitem um conhecimento não se sabe de quem, nem de quando, devem e podem guiar sua vida, ah.. aí, já é pedir muito!
Um dos que mais tem me assombrado recentemente é aquele tal do "recordar é viver". Ôh coisinha pra ecoar.. e de tanto ficar ecoando, acabei discordando!
Como assim recordar é viver? Claro que tenho lembranças, não pretendo esquecer as coisas que vi, vivi, ouvi e senti porque estão no passado. Mas passar todos os meus dias do presente querendo rever, reviver e relembrar palavras, cheiros e gostos, não dá. Não dá, porque não é justo com o passado que "passou não voltará" e, principalmente, não é justo com o presente. Afinal, se parar a vida pra ficar lá, vivendo do recordar como pode ser possível depois ter novas coisas para recordar?!
Não, não quero, nem posso acreditar que devo mesmo reviver assim, tão intensa e incessantemente, o passado.
Sabe, as pessoas tem que entender que o que se viveu não tem que durar pra sempre pra ser de verdade. Nem que o só pode ter sido bom caso se repita, caso se diga e repita que foi infinitas vezes. É preciso, a meu ver, aprender a viver com o que se teve, e foi bom, do jeito que foi, sem querer retocar, consertar ou completar. Porque nem sempre a versão acaba é a que se gosta mais, às vezes, bom mesmo é o croqui - com todas as linhas de construção ali, aparentes, revelando o tremor, a incerteza quanto a forma e a vontade explícita de se conhecer o objeto.
O que vai ficar e o que não, do que se lembrar e do que se esquecer, essas são perguntas que não pretendo responder. Só sei que respeitar sentimentos e escolhas do passado serve pra fortalecer quem se é e quer ser.