domingo, 15 de janeiro de 2012

Ganhar é/ou perder

Uma das coisas que mais me instiga, desde muito tempo, é uma coisa que todos criticam e condenam: o suicídio.
Sempre dizem que quem o comete é fraco, por desistir, por não buscar ajuda, por não lutar, por destruir a família, por pecar.. Mas eu sempre achei bem o contrário. Quem suicida é muito forte. Já tentou engolir uma cartela inteira de comprimidos? E várias?
Eu sempre penso que suicidar não é tão simples. Temos sempre a disposição pelo menos meia dúzia de medicamentos, outra de produtos de limpeza, cosméticos, bebidas, sem falar dos ilícitos.
Concluir que o fim da própria vida é o melhor caminho não é fraqueza. É força de reconhecer que não tem perspectiva alguma de mudar a própria realidade, e essa é uma coisa que, me parece, sempre adiamos reconhecer.
Vamos no analista para nos convencer que o problema é passageiro, que parte é dos outros, e que o eu estava abandonado por algum trauma/problema/lembrança que deve ser superado, vencido, resignificado. Fazemos promessas de ano novo jurando que tudo vai ser diferente, menos 15kg, menos stress, menos sofrimento, mais viagens, mais alegrias, mais amor.
Como se fosse tudo mesmo uma questão de mentalizar, de saber usar "o segredo", de que antes não se tinha aquilo porque na verdade não se buscou, não se dedicou.
E fica parecendo que pra ser feliz tem é que viver por muitos anos, ter vida de comercial de margarina. Família unida, feliz, amigos que te telefonam, te correspondem, malhar 5x na semana, levar filhos pra escola, para sem filhos ter cachorro ou viajar, pode casar e separar, trabalhar por 30 anos, aposentar, talvez ter netos/bisnetos, uma casa, um carro popular. Que as angustias que passaram nesse tempo são só uma forma de justificar e engrandecer o fim.
Que grandeza tem sofrer tanto, por tantas coisas?
Sei lá, será que não foi mais feliz o suicida, que aos 20 ou 30, depois de ter vivido o que quis, de acordo com suas condições, que frustado, ao se perceber sem perspectivas, sozinho, ao invés de achar que deveria "ir atrás" e se encaixar num padrão prefere morrer dignamente, respeitando seus propósitos de vida e suas limitações? Será que lutar é mesmo assim tão melhor?

Será que se ganha?
Talvez o que se deva resignificar é o conceito de ganhar.